O PAPEL DA CONSCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO Sentimos a necessidade de demonstrar, em função de experiências pregressas e, especialmente, a partir de estudos realizados recentemente, uma visão sintética da nossa concepção de educação integral e seus reflexos diretos na prática educativa, destacando o papel da consciência no sistema formal de educação, porquanto não é preciso muita análise para se compreender que vive em boas condições quem boa condução tem. Neste contexto, importa-nos questionarmos acerca da consciência, em si. De acordo com o Dicionário de Filosofia (1), a palavra Consciência deriva do latim conscientia. Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral - a possibilidade de autojulgar-se - tem conexões estreitas com o aspecto teórico a possibilidade de conhecer-se de modo direto e infalível. Segundo Cipriano Luckesi (1999, p.13-25) a consciência não é abstração, algo intocável, mas sim aquilo que somos na totalidade do nosso ser, o que inclui, simultaneamente, as dimensões do corpo, da personalidade (emoção) e da espiritualidade. Ele expressa que a consciência não é dada plenamente manifesta; ela nos é dada como um dom e para que se manifeste, necessita da nossa capacidade para manifestá-la e esta, por sua vez, depende do nosso desenvolvimento. Antônio Damásio (2000, p. 20), por sua vez, entende a consciência como a chave para que se coloque sob escrutínio uma vida, seja isso bom ou mau; é o bilhete de ingresso, nossa iniciação em saber tudo sobre fome, sede, sexo, lágrimas, riso, prazer, intuição. Em seu nível mais complexo e elaborado, a consciência ajuda-nos a cultivar um interesse por outras pessoas e a aperfeiçoar a arte de viver. Entendemos, pois, a consciência como uma das faculdades inatas, capitais do ser humano, que o favorece, inclusive, na absorção, se assim podemos dizer, do valor significativo real das relações, conforme o que estabelecem as Leis Naturais que regem o Universo. Refere-se, portanto, àquela força interior do ser humano que o impele a exteriorizá-la sob forma de ação. Mas, para isso fazermos, temos que assumir o dever de buscar integrar o nosso sentir, pensar e agir, quando nas relações; afinal, o ser humano é, também, o produto do que sente, pensa e age. Eis que os nossos sentimentos, pensamentos e atos nada mais são senão expressões de nossa consciência. A partir do exposto, vale reforçar que nosso caminho natural é o despertamento da nossa Consciência como tarefa emergencial, inclusive e principalmente, através da Educação, ainda que tenhamos muitos limites e/ou obstáculos para tal. Na perspectiva da abordagem transpessoal surge espaço para tratarmos da consciência na dimensão para "além do ego" humano, envolvendo a sua maneira de sentir, pensar e agir, através da sua conduta, a qual denuncia o seu grau de consciência. A consciência, portanto, pode ser concebida como uma das propriedades mais significativas da matéria em hominização. Ela é uma das mais importantes faculdades inatas capitais do ser humano que o possibilita, além de saber e sentir suficientemente, acerca da realidade, segundo, não só o que conhece, mas também se aproximar daquilo que estabelece a moralidade do universo que a conduta dos corpos celestes denuncia. A nossa experiência sugere, em função desses estudos que viemos realizando ao longo dos últimos dez anos, que o maior desafio do ser humano é compreender a vida e, para tanto, ele lança mão da sua consciência, que quanto maior for o seu grau, tanto maior será a sua compreensão acerca da vida. Pois, parece-nos claro que, a consciência, quando despertada e/ou construída em grau significativo no Ser Humano, ajuda-o a eleger valores éticos, estéticos e morais, no mínimo elevados; a identificar as faculdades e qualidades formadoras do seu ser, bem como a buscar saber significativamente acerca do Princípio Criador, da finalidade da vida e da razão de nossa existência, a partir da compreensão do valor significativo real das relações que estabelece no dia-a-dia. Assim considerado, vale destacarmos o valor das relações humanas no contexto da vida. A atividade fim do ser humano é compreender a vida, para tanto, ele lança mão da atividade meio específica: o viver, que nada mais é do que ser e estar em relações, afinal, não é demais salientar que no Universo nada vive no isolamento e tudo são ações nas relações. Daí vale lembrarmos que o valor significativo real de uma relação não só é a busca de segurança, da satisfação e da dita felicidade, mas, também, da auto-revelação, para que possa haver, no ser, o conhecimento, o autoconhecimento e a auto-realização. Cumpre-nos, pois, ousarmos experimentar o que É, tal qual é, a dinâmica da vida, ou seja, da realidade, de forma mais intensa possível. Afinal, parece-nos claro que à medida que experimentamos de forma direta, correta e completa a dinâmica da vida, nossa consciência cresce e nosso conflito diminui, porquanto, um dos maiores desafios do gênero humano está nele ter a capacidade de usar sua qualidade de pensar para agir, sem problemas produzir, ou melhor, sem caos criar. A educação, por sua vez, não pode ficar alijada desse processo. É chegada a hora de tratarmos da Consciência na prática pedagógica, buscando contribuir, efetivamente, para o desenvolvimento humano, como um todo. A educação integral, fundamentada no estudo da consciência, por sua vez, responde, inclusive, aos anseios da educação para o século XXI, a partir de um método educativo que privilegie o ensino que facilita a aprendizagem, bem como toda aprendizagem que desperta o sentimento. Com efeito, essa proposta de educação, por sua própria natureza, necessita ser exercida em todos os âmbitos das instituições de ensino. É neste contexto que cabe a proposição urgente do estudo da consciência no ensino formal, através das diversas práticas pedagógicas. Essa visão contempla, pois, o objetivo e o subjetivo, e atende a abordagem integral do desenvolvimento humano. - Iniciação à Consciência, no âmbito da Educação Infantil e do Ensino Fundamental; - Consciência, no âmbito do Ensino Médio; - Conscienciologia, no âmbito do Ensino Superior. O estudo da consciência, nesse contexto, vem apresentando os seguintes objetivos principais relativos ao desenvolvimento humano: auxiliar a que o ser humano observe a relação entre a sua constituição física/psíquica/moral e a sua maneira de sentir, pensar e agir, enfim, de realizar, segundo as exigências de suas necessidades básicas individuais e sociais; favorecer ao ser humano o estudo da sua conduta psicossocial, portanto, buscando verificar o grau de sua consciência individual e social, além de oportunizar ao ser humano o despertamento e/ou construção do seu caráter, segundo aquilo que indica a moral, a ética e a estética elevadas. Assim sendo, estamos sendo, não só convidados, mas, também, convocados, enquanto educadores, a refletirmos acerca de uma educação que favoreça, de fato, o desenvolvimento integral do ser humano, destacando o papel da consciência. Que a consciência nos ilumine! (1) ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Autor deste artigo: Dra. Maribel Barreto |